ARTIGOS DE OPINIÃO

Este blog foi criado para as postagens dos artigos, resenhas e redações dos alunos do 2º ano vespertino do Ensino Médio da EEEFM "Washington P. Meirelles". Os textos abaixo foram inspirados nas aulas de Literatura nas quais foram ministradas a Prosa no Romantismo Brasileiro.
Um abraço.
Márcia Helena - professora

domingo, 8 de agosto de 2010

A Dor Insuperável

Autora: Dieli de Souza Brandão
2º V1


Eu não a conhecia, mas um sentimento de compaixão me cobriu e me fez estremecer naquele mo-mento. E sem saber o que realmente aconteceu, fiquei ali, ao seu lado, fitando seu rosto sereno como se lembrando de um tempo passado em que a felicidade reinava.
Que destino o meu. De uma manhã tranqüila a um final trágico...
Tudo começou quando eu estava na varanda, depois de tomar o meu café, comendo os últimos bis-coitos do pacote e olhando para a estrada de chão que passa em frente a minha casa, quase sem movi-mento, só na calmaria do vento além da estrada a balançar a plantação de trigo.
Quando, de repente, um vulto apareceu na estrada em pequenos passos, como que não se encai-xando com a paisagem.
À primeira vista me assustei ao ver uma senhora com os cabelos bastante despenteados, descalça, vagando pela estradinha deserta. Pensei que fosse uma louca. Mas ao olhar com mais calma, notei que vestia um camisolão branco e logo associei que tinha saído de algum hospital e precisava de ajuda.
Deixei tudo para trás e sem desviar o olhar da estranha senhora, fui seguindo-a em seu caminho apa-rentemente sem rumo. Quando pude me aproximar, ela parou na estrada onde se dividia em uma bifurca-ção e como se soubesse que eu a estava seguindo se virou para mim e perguntou:
_ Qual dessas estradas dá no depósito Grã-Chico?
Andando poucos metros, debaixo de um sol escaldante, não me preocupei em responder, mas a se-gurei pelo braço e a puxei para debaixo de uma mangueira pequena que fazia sombra na estrada e disse:
_ Quem é a senhora? Por que está andando por aqui deste jeito?
Ela levantou seu olhar perdido, lentamente, para mim como se estivesse sem pressa e vontade de responder e perguntou novamente:
_ Qual dessas estradas dá no depósito? Eu preciso ir lá, não posso perder tempo! É hoje que Pedri-nho vai lá, eu preciso vê-lo!
¬_ Que Pedrinho, senhora? Ninguém pode estar lá no depósito, está abandonado. Há anos ninguém vai lá.
Isso até me lembrou que em uma época crianças iam até lá brincar, mas seus pais achavam perigoso e começaram a inventar que o depósito era assombrado. E a história se espalhou e devo admitir que tive um certo receio, na época, de entrar no depósito. Nenhuma criança mais colocou o pé lá.
_ Eu sei que está abandonado e que ninguém vai lá, por isso meu pequeno Pedrinho vai para lá! Eu estou morrendo de saudades dele! Preciso vê-lo.
Como que em desespero, olhou para o céu e disse:
_ Oh, meu Deus! Me dê forças para chegar até lá, para ver o olhar de meu pequeno Pedrinho pela úl-tima vez!
Não entendendo o que se passava com ela e com o tal Pedrinho, minha curiosidade apontou o cami-nho da esquerda que dava no velho depósito que por muito tempo fora chamado pelo nome de seu dono: Grã-Chico Salva – dono da maioria das terras daqui e por conta da grande quantidade de suas colheitas, que a cada ano aumentava, abandonou o pequeno depósito e construiu outros maiores perto de sua grande fazenda.
A mulher retomou sua caminhada que fazia suas frágeis pernas tremerem quando seus pés descal-ços e empoeirados tocavam o chão. Fui atrás dizendo que não poderia haver ninguém lá, mas ela não me escutava. Não vi outra saída a não ser ajudá-la a chegar no depósito. Coloquei o seu braço em volta do meu pescoço e quando a segurei pela cintura para apoiá-la, minha mão segurou o que parecia ser um cura-tivo. Ao tocar o ferimento, a senhora sussurrou um “ui” doloroso e baixinho.
_ A senhora está machucada! Então veio de um hospital?
Para confirmar minhas suspeitas, ela falou:
_ Eu tive que sair de lá, eles falavam que eu não podia sair para ver ninguém, que meu corte foi pro-fundo e que estava muito mal, mas...
_ Mas o quê? _ Perguntei-lhe, já me encontrando no meio de uma história confusa e misteriosa.
_ Eu preciso ver meu filhinho, meu pequeno Pedrinho. Sei que não vou viver muito, por causa da grande dor que sinto, por conta do meu ferimento, mas preciso que ele saiba que eu o perdôo por tudo o que fez...
Nesse momento, parecia que seu olhar se perdia em alguma lembrança.
Já estávamos chegando ao depósito, quando meus olhos se arregalaram ao ver uma Van parada em frente ao Grã-Chico. Surpreendi-me ao saber que havia realmente alguém lá. Parei em frente a Van e fiquei olhando o seu interior. Enquanto isso, a senhora foi entrando no depósito. Rápida, sumiu escuridão adentro.
Depois escutei vozes dentro do depósito e fui entrando devagar por um corredor escuro que dava em uma área maior, um pouco mais clara do que a primeira. Ainda sem ver ninguém, escutei:
_ Mãe! O que faz aqui!?
_ Filho, eu saí do hospital! Eu fugi de lá pra te ver!
_ A essa altura, já era pra você estar morta! Como não morreu?
_ Eu não podia morrer antes de te perdoar, meu filho! Quando você soube que eu tinha descoberto o que você faz, logo pensou “minha mãe vai espalhar”. Mas não, meu amor, eu compreendo que você não quer de verdade matar ninguém, só faz isso para ganhar o seu dinheiro.
_ Velha idiota!!
Eu não podia acreditar nas palavras da senhora, quando cheguei a uma área maior, me escondendo e me agachando por trás de grandes caixotes, meu sangue gelou ao ver uma moça ensangüentada no chão com os olhos arregalados e mais atrás um homem magro, moreno, mas com uma aparência sombria e segurando firme uma arma e parecendo muito zangado com a pobre senhora a sua frente. Ela abriu os braços e, quando ia se aproximando de seu filho, disse:
_ Eu te perdôo, Pedrinho!
Ele apontou a arma para ela e gritou apertando o gatilho:
_ Você não me entende!
A senhora, após receber vários tiros, caiu sobre alguns móveis antigos ali abandonados.
_ Você nunca entendeu que eu faço isso porque eu quero! Eu ganho muito dinheiro e me divirto aca-bando com vida desses coitados!
Ao ver aquilo, senti medo de ficar ali. Estava suando muito e sentia um grande pesar no coração. Lá-grimas rolavam no meu rosto como seu eu sentisse a dor daquela mãe. Não queria mais assistir àquilo... Mas o homem continuou:
_ Você acha que quando eu te apunhalei foi porque não espalhasse nada? Ora, você é um peso na minha vida, você só me atrapalhava, não preciso de você! Precisava te dar um fim... Mas a bendita não morreu! E agora, você e essa coitada aí no chão vão ficar pros vermes! E eu vou receber o meu dinheiro, porque já cumpri meu mandado. Adeus, ma-mãe...
O homem saiu do depósito. Eu estava em estado de choque, só levantei quando ouvi a Van dar a partida e fui em direção à senhora, estendida no chão, que estava iluminada por uma pequena abertura da cortina, deixando passar um facho de luz no depósito escuro.
Eu me abaixei perto dela e não contive o choro, um choro incontrolável, por sentir uma dor de ver um filho matar a própria mãe. Não entendia.
Uma pequena e solitária lágrima correu pelo sereno rosto da senhora que sussurrou:
_ Eu te perdôo, Pedrinho! Eu te perdôo...

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